A tristeza sem fim tem a capacidade de transformar o indivíduo deprimido em um verdadeiro glutão. Trata-se, no entanto, de um caso raro. Até mesmo por isso esse tipo de depressão ficou conhecido como atípica. Aproximadamente 15% dos pacientes fazem parte desse grupo, calcula Ricardo Alberto Moreno, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Os motivos para a pessoa trilhar o caminho da comilança ainda não foram elucidados, mas eles estão estritamente relacionados ao destrambelhamento químico que é deflagrado no cérebro. Ou seja, a culpa recai sobre neurotransmissores como serotonina, noradrenalina e dopamina, substâncias fundamentais na regulação do humor. Por isso, leve a sério eventuais mudanças bruscas no comportamento à mesa. Até porque comer e comer de forma desenfreada pode culminar em quilos extras. E a gordura em excesso, além de ser um fardo ao coração e às articulações, agrava a própria depressão.
Isso porque o tecido adiposo que sobra nos obesos contribui para uma maior produção do hormônio do estresse, o cortisol. Além disso, bagunça o trabalho da insulina, outro hormônio cuja função é botar o açúcar para dentro das células. E o açúcar é fundamental para manter o alto astral. Assim, se a insulina não consegue realizar sua função a contento...
Sem contar que, para muita gente, os pneus inflados nem sempre são sinônimo de boa aparência, o que pode servir de gatilho para uma outra crise depressiva. Uma situação adversa assim é capaz de gerar um desequilíbrio entre os neurotransmissores, ensina a psicofisiologista Telma Gonçalves Carneiro Spera de Andrade, da Universidade Estadual Paulista, em Assis, no interior de São Paulo.
Mas como saber quando a fome insaciável pode indicar um problema mais sério? A depressão atípica geralmente vem acompanhada de muita sonolência, descreve Ricardo Alberto Moreno. Fora isso, vale ficar atento a outros sinais físicos, como as dores de cabeça, as de barriga ou nas costas. Também não se esqueça dos sintomas emocionais, que vão desde a melancolia até a irritação constantes. Uma coisa, porém, deve ficar clara: ter apetite de leão não é sentença de depressão.
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